João Ferreira de Almeida: Pioneiro na Tradução da Bíblia para o Português


A tradução de Almeida não foi apenas uma conquista literária, mas um instrumento poderoso para a disseminação da fé em terras de língua portuguesa.


João Ferreira de Almeida nasceu por volta de 1628 em Torres de Tavares, uma pequena aldeia em Portugal. Ele é amplamente reconhecido como o responsável pela primeira tradução da Bíblia para o português, trabalho que teve um impacto profundo na disseminação das Escrituras no mundo lusófono. Sua vida e obra são marcos importantes na história do cristianismo em Portugal e em outras regiões de língua portuguesa.

Ainda jovem, Almeida foi enviado para as Índias Orientais Holandesas, atual Indonésia, onde se estabeleceu em Batávia (hoje Jacarta). Foi ali que ele teve seu primeiro contato com a fé protestante, através da comunidade reformada que estava presente na colônia holandesa.

Convertido ao calvinismo, Almeida tornou-se um ardente defensor da fé reformada e, eventualmente, um pregador e missionário. Esse fervor o levou a embarcar em um projeto que se tornaria o trabalho de sua vida: a tradução da Bíblia para o português.

A tarefa de traduzir a Bíblia foi colossal, especialmente para alguém que, como Almeida, vivia em uma época de escassez de recursos linguísticos e teológicos. Sem acesso a uma vasta biblioteca ou ao apoio acadêmico de uma grande instituição, Almeida trabalhou praticamente sozinho.

Começou com a tradução do Novo Testamento, utilizando como base o texto grego. O Novo Testamento foi completado em 1676, mas a primeira edição só foi publicada em 1681 em Amsterdã. Essa obra foi imediatamente reconhecida como uma realização notável, embora não tenha escapado às críticas de seus contemporâneos, que apontaram diversos erros e imprecisões no texto.

Determinado a continuar sua obra, João Ferreira de Almeida voltou sua atenção para o Antigo Testamento. No entanto, essa parte do trabalho foi muito mais difícil e demorada, devido à necessidade de aprender hebraico e lidar com textos mais complexos.

Em 1691, enquanto ainda estava trabalhando na tradução do Antigo Testamento, Almeida faleceu sem ver sua obra concluída. Seu trabalho, contudo, não foi em vão. Outros continuaram a tarefa, revisando e completando a tradução, que foi publicada postumamente.

A tradução de Almeida não foi apenas uma conquista literária, mas também um instrumento poderoso para a disseminação da fé protestante em terras de língua portuguesa. Naquela época, o português era uma língua global, falada em colônias e entre comunidades comerciais espalhadas pelo mundo, do Brasil ao Extremo Oriente. A Bíblia de Almeida se tornou um pilar para os protestantes lusófonos, proporcionando-lhes um texto sagrado acessível em sua própria língua.

Almeida também enfrentou desafios consideráveis devido ao contexto político e religioso da época. Portugal era então um país profundamente católico, e a Inquisição ainda estava ativa, perseguindo aqueles que se desviavam da fé oficial. A obra de Almeida foi considerada herética por muitos em sua terra natal, e ele mesmo foi alvo de perseguições e censuras, especialmente pela Igreja Católica.

Apesar dessas adversidades, a tradução de João Ferreira de Almeida sobreviveu e prosperou. Suas revisões e edições subsequentes tornaram-se padrão para as comunidades protestantes lusófonas ao redor do mundo. Mesmo hoje, a “Almeida Revista e Corrigida” e a “Almeida Revista e Atualizada” são amplamente utilizadas em igrejas evangélicas no Brasil, em Portugal e em outros países de língua portuguesa.

A importância de João Ferreira de Almeida na história do cristianismo em língua portuguesa não pode ser subestimada. Seu trabalho abriu caminho para que milhões de falantes de português tivessem acesso à Bíblia em sua língua materna, e seu legado continua a ser uma parte central da identidade religiosa de muitos até os dias de hoje. Por meio de sua dedicação e perseverança, Almeida se tornou uma figura emblemática da tradução bíblica, um verdadeiro pioneiro que moldou a história espiritual de gerações.




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